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24 de mai. de 2020

Aulas em tempos de pandemia: medo, ansiedade, pressão e descaso.

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Olá amigos, tudo bem? Hoje, 09/05/2020, minha cidade, Fortaleza, capital do estado do Ceará, entrou em regime de "lockdown", palavra em inglês para definir fechamento total dos locais não essenciais e restrições ao deslocamento da população, isso tudo devido a pandemia causada pelo vírus COVID-19, que já matou milhares de pessoas em todo o mundo.
Estamos sofrendo com isso já há dois meses, quando tudo começou, levando-nos gradualmente ao estado atual de "lockdown". Devido a isso, todas as aulas foram suspensas e as escolas e universidades encontram-se fechadas, públicas e privadas, com seus alunos em casa, longe das aglomerações, que tanto ajudam a disseminar o vírus na população. Assim, com todas as escolas e universidades fechadas, o que fazer para que o ano letivo não fosse totalmente perdido, para que os alunos pudessem continuar a ter suas aulas e conteúdos ministrados pelos professores?
Bom, todos tiveram a mesma ideia: as aulas serão ministrada através do modelo EAD, o já famoso, mas desconhecido para a absoluta maioria, Ensino a Distância. Então começou a grande Saga: o que é EAD, uma vez que nenhuma escola o utilizava realmente? Como isso é feito? Como funciona? Ah, os professores ministrarão suas aulas de casa, usando uma ferramenta para reuniões remotas, que NÃO CONFIGURA realmente ensino a distância, e pronto, resolvemos o problema!
Mas o que se viu não foi a resolução do problema, mas o aparecimento de muitos outros e o desnudamento de instituições que se diziam "totalmente integradas com a tecnologia", mas que fundo não eram nada disso. O que se viu foram professores tendo que "aprender" na marra a gravar aulas, utilizando os recursos que tinham nas mãos, e por sua própria conta e risco, sem a devida capacitação, já que o tempo urgia e os pais e alunos cobravam uma solução por parte das instituições, ou isso ou férias coletivas e redução das mensalidades.
Nunca vi tantos colegas chorando, reclamando do tratamento "insensível", para utilizar uma palavra amena, por parte de gestores e coordenadores das instituições privadas, "estão nos fazendo de escravos!" disse um colega, "não respeitam mais dia nem horário, nos ligam a todo instante!", e muitas outras situações esdrúxulas as quais os professores foram expostos, e isso tudo por falta de planejamento e investimento.
Várias das regras do ensino a distância foram ignoradas ou mutiladas, confusão quanto ao que é Ensino a Distância e Ensino Remoto levaram a aulas sem o menor sentido, perdendo totalmente seu objetivo principal, o de fazer o aluno aprender. No ensino a distância, exatamente como no presencial, as aulas tem que ser planejadas antecipadamente, o professor tem que reunir o material necessário que irá compor seu conteúdo para apresentá-lo aos seus alunos, nada pode ser "de qualquer jeito."
Vejamos aqui alguns pontos que devem ser observados quando se trata de ensinar a distância ou remotamente:
  1. Tempo: em uma transmissão remota, as famosas "Lives", ou em uma transmissão por vídeo gravado antecipadamente, o tempo deve ser menor que em uma aula presencial, pois prender a atenção nesses casos é bem mais complicado do que presencialmente. Vídeos não devem ultrapassar os quinze minutos, quando muito vinte, e devem ser o mais objetivos possíveis. No caso das transmissões ao vivo, devemos reduzir as aulas para quarenta minutos, pois ficar diante do computador ou por dispositivo móvel cansa muito mais e as distrações são maiores.
  2. Público: ouvi casos em que crianças do Ensino Infantil e Fundamental I tiveram aulas remotas, o que não é recomendado, pois não possuem maturidade para esse tipo de apresentação (por mais que as professores cantem e dancem na frente das câmeras, não vai funcionar!). Alunos a partir do sexto ano já até podem ter aulas remotas, desde que obedeçam ao item "Tempo" e não se alonguem por demais.
  3. Infraestrutura: é necessário que se tenha o mínimo de estrutura para que o professor possa criar as suas aulas. Câmeras adequadas, conexão com a Internet de boa qualidade, smartphone, computador ou tablet robustos e um espaço adequado para as gravações, sem falar dos softwares adequados para cada situação, isso NÃO PODE SAIR DO SEU BOLSO! Se a instituição deseja que as aulas aconteçam de forma primorosa, ela deve fornecer os subsídios necessários para tal.
  4. Suporte: o professor deve receber capacitação, treinamento e apoio em cada passo do processo, não ser deixado a sua própria sorte ou recebendo "treinamento para inglês ver." A instituição deve ter uma equipe, ou pelo menos alguém, dependendo do tamanho da instituição, preparada para apoiar o corpo docente no que for necessário, hardware, software e todo o resto.
Esses são apenas os principais pontos que devem ser observados quando se pretende utilizar a tecnologia de EAD e Ensino Remoto em grande escala, mas infelizmente não foi o que se viu realmente. Muitos dos que passaram pela experiência de ensinar utilizando as tecnologias passaram a desgostar do modelo, já que não o conheciam antes e foram apresentados a ele da pior forma possível: goela abaixo.
Espero que tenha servido de lição e que, a partir de agora, a EAD e o Ensino Remoto sejam levados a sério (estou generalizando...) por quem não acreditava neles, que se planejem atividades regulares dentro desses modelos, independente de pandemias, mas como forma de realmente complementar o estudo presencial, principalmente nas escolas e criar a cultura do Ensino Digital e a Distâncias em alunos, seus pais e professores, não pensando apenas em "como tapar o buraco" das aulas presenciais.